No Brasil, essa fatia da população recebe cerca de 41% do total; desigualdade vinha caindo, mas tendência foi interrompida pela crise. Dados são de 2017.
A concentração da renda do trabalho mostrou leve queda em 2017, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (4) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Apesar do recuo, os 10% mais ricos continuam recebendo quase 50% de toda a renda do trabalho gerada.
O relatório, que abrange 189 países, mostra que, naquele ano, os 10% mais ricos do mundo receberam 48,95% da renda do trabalho – no ano anterior, esse percentual havia sido levemente maior, de 49,23%. Já os 10% mais pobres receberam 0,15% da renda, mesmo patamar registrado desde 2014. Mesmo a fatia dos 50% mais pobres ainda é muito pequena: representa apenas 6,4% do total.
“Ainda que os níveis de desigualdade de renda sigam muito altos, eles mostraram uma redução substancial entre 2004 e 2017”, diz OIT.
Um trabalhador entre os 10% mais ricos recebeu, em média, US$ 7.445 por mês em 2017. Já os que estão entre os 10% mais pobres tiveram uma renda média mensal de apenas US$ 22. Considerando todos os 50% mais pobres, a renda foi de US$ 198, segundo a OIT.
A OIT destaca, ainda que a renda do trabalho corresponde a 51,4% de toda a renda gerada. Os outros 48,6% se referem à renda do capital – ou seja, remuneraram os proprietários do dinheiro. “É importante ressaltar que a participação do capital aumentou nos últimos anos”, aponta a entidade.
Efeito dos emergentes
De acordo com o estudo, embora o conjunto de dados mostre uma redução na desigualdade global da renda do trabalho desde 2004, isso não se deve a reduções na desigualdade dentro dos países.
“Pelo contrário, é por causa do aumento da prosperidade em grandes economias emergentes, como China e Índia. No geral, os resultados dizem que a desigualdade de renda continua difundida no mundo do trabalho”, afirma a OIT.
Ao dividir os assalariados em três grupos, entre salários baixos, médios e altos, a OIT aponta também que somente os trabalhadores com salários mais altos viram sua situação melhorar entre 2004 e 2107, enquanto os pertencentes às classes média e baixa registraram redução no poder de compra.
Considerando a distribuição de remuneração média entre os países, a OIT constata que a participação da classe média (aproximadamente 60% dos trabalhadores) diminuiu, globalmente, de 44,8% para 43% entre 2004 e 2017. Simultaneamente, a participação dos 20% dos que mais ganham aumentou de 51,3% para 53,5%. Os países em que estes trabalhadores mais bem pagos viram a sua parcela de remuneração aumentar em pelo menos um ponto percentual incluem Alemanha, Indonésia, Itália, Paquistão, Reino Unido e Estados Unidos.
“Os dados mostram que, em termos relativos, os aumentos nos rendimentos da mão-de-obra estão associados a perdas para todos os outros, com trabalhadores de classe média e baixa renda observando sua participação no declínio da renda”, explica o diretor de produção de dados da Unidade de Análise da OIT, Steven Kapsos, por meio de comunicado obtido pelo Valor.
Brasil
No Brasil, a desigualdade de renda do trabalho vinha em tendência de queda, segundo os dados da OIT. Mas essa melhora foi interrompida pela crise.
De 2004 a 2016, a renda percebida pelos 10% mais ricos recuou de 47,75% a 40,91% – em 2017, no entanto, voltou a subir, atingindo 41,36%. Já o rendimento dos 10% mais pobres subiu de 0,49% a 1,11% entre 2004 e 2016, mas mostrou um recuo em 2017, para 1,04% do total.