A revista Veja, em parceria com o site The Intercept Brasil, divulga mensagens inéditas mostrando que o ex-juiz Federal Sergio Moro, atual ministro da Justiça, cometeu irregularidades enquanto magistrado. São fatos gravíssimos sobre a atuação de Sergio Moro.

Os jornalistas Glenn Greenwald, Edoardo Ghirotto, Fernando Molica, Leandro Resende e Roberta Paduan assinam reportagem nesta sexta-feira, 5, que analisou mais de 649 mil mensagens e concluiu:

“Fora dos autos (e dentro do Telegram), o atual ministro pediu à acusação que incluísse provas nos processos que chegariam depois às suas mãos, mandou acelerar ou retardar operações e fez pressão para que determinadas delações não andassem. Além disso, revelam os diálogos, comportou-se como chefe do Ministério Público Federal, posição incompatível com a neutralidade exigida de um magistrado. Na privacidade dos chats, Moro revisou peças dos procuradores e até dava bronca neles.”

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A reportagem informa que em uma conversa de 28 de abril de 2016 Sergio Moro orientou os procuradores a tornar mais robusta uma peça. Dallagnol avisa à procuradora Laura Tessler que o juiz o havia alertado sobre a falta de uma informação na denúncia de um réu: “Laura no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do Musa e se for por lapso que não foi incluído ele disse que vai receber amanhã e da tempo. Só é bom avisar ele”.  “Ih, vou ver”, responde a procuradora. No dia seguinte, o MPF incluiu um comprovante de depósito de 80 mil dólares feito por Skornicki a Musa. O magistrado aceita a denúncia minutos depois do aditamento, citando precisamente na decisão o documento que havia pedido.  

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O hebdomadário aponta que, do conjunto do material analisao, o que se depreende “é uma evidente parceria na defesa de uma causa”, especialmente nas conversas entre Moro e Dalla­gnol. Em 2 de fevereiro de 2016, reporta a revista, o então juiz escreve a ele: “A odebrecht peticionou com aquela questao. Vou abrir prazo de tres dias para vcs se manifestarem”. Dalla­gnol agradece o aviso. Moro se refere ao questionamento da Odebrecht à Justiça da Suíça a respeito do compartilhamento de dados, incluindo extratos bancários, da empresa naquele país. Moro pede notícias a Dalla­gnol no dia 3. “Quando sera a manifestação do mpf?”, pergunta. “Estou redigindo, mas quero fazer bem feita, para já subsidiar os HCs que virão. Imagino que amanhã, no fim da tarde”, responde o procurador. No dia seguinte, Dalla­gnol informa a Moro que a peça estava quase pronta, mas dependia ainda da revisão de colegas. “Protocolamos amanha, salvo se for importante que seja hoje. Posso mandar, se preferir, versão atual por aqui, para facilitar preparo de decisão”, escreve. Moro tranquiliza Dalla­gnol: “Pode ser amanha”. No dia 5, prazo final, por volta das 15 horas, Dalla­gnol manda pelo Telegram ao juiz a peça “quase pronta”. A situação é completamente irregular.

“Em vez de se comunicarem de forma transparente pelos autos, juiz e procurador usam o Telegram. Como se não bastasse, o chefe da força-tarefa ainda envia a Moro uma versão inacabada do trabalho para que o juiz possa adiantar a sentença.” Veja e The Intercept Brasil

Tratava-se, como apontam Veja e The Intercetp, de uma via de mão dupla: Dalla­gnol dá dicas sobre argumentos para garantir uma prisão, como revela conversa de 17 de dezembro de 2015. Moro informa que precisa de manifestação do MPF no pedido de revogação da prisão preventiva de José Carlos Bumlai, pecuarista e amigo de Lula. “Ate amanhã meio dia”, escreve. Dalla­gnol garante que a ação será feita e acrescenta: “Seguem algumas decisões boas para mencionar quando precisar prender alguém…”. “À luz do direito, é tão constrangedor quanto se Cristiano Zanin Martins fosse flagrado passando a Moro argumentos para embasar um habeas­-corpus a favor de Lula”, afirma a revista.

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Até o momento, além de não confirmar que as conversas de fato ocorreram, Sergio Moro tem insistido que tais conversas são rotina.

Vazamentos

Migalhas reuniu, em site exclusivo, todas as informações e desdobramentos dos vazamentos envolvendo a operação Lava Jato. Acesse: vazamentoslavajato.com.br 

 

Migalhas, 05 de julho de 2019