Sessão solene marcou, na Câmara dos Deputados, movimento de trabalhadoras rurais que ocorre nesta quarta-feira (14) em Brasília. Parlamentares e participantes do evento criticaram o governo atual.

A crítica às reformas em andamento no governo de Jair Bolsonaro deu o tom à sessão solene da Câmara dos Deputados que homenageou a Marcha das Margaridas 2019, nesta terça-feira (13). O entendimento dos participantes da solene é de que as políticas atuais retiram direitos de trabalhadores e trabalhadoras.

Uma das parlamentares que sugeriram o evento, a deputada Erika Kokay (PT-DF) ressaltou que a marcha deste ano representa a luta por democracia, direitos e liberdade, em um momento em que, segundo ela, se promove uma “deforma da Previdência” e se retira a aposentadoria dos brasileiros.

Sessão reuniu trabalhadoras rurais e representantes de comunidades indígenas – Lara Haje/Câmara dos Deputados

Nas palavras de Kokay, o Brasil hoje está servindo ao capital e ao grande latifúndio, e o que as margaridas querem é “um Brasil diverso que possa abrigar o conjunto dos povos brasileiros”. “A gente marcha por uma alimentação saudável,  por uma terra que tem que ser repartida, a gente marcha para colocar o povo brasileiro e as mulheres no orçamento, porque nós estamos sendo expulsos dele”, afirmou.

A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ)), que também sugeriu a solene, disse ser grave este momento em que “se avança sobre terras indígenas e quilombolas e sobre as mulheres”. As mulheres que marcham, disse ainda, são “mulheres com uma vida em tragédia”. “Política é o preço do pão, é o preço do ônibus, é se nossas mulheres vão poder se aposentar ou não, é se os filhos dessas mulheres vão chegar vivos em casa ou não”, declarou.

Desde 2000

Em sua sexta edição, a Marcha das Margaridas, organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), é uma manifestação realizada desde 2000 por trabalhadoras rurais do Brasil. Elas vêm a Brasília chamar a atenção para o trabalho exercido por mulheres agricultoras, quilombolas, indígenas, pescadoras e extrativistas. O lema deste ano é Margaridas na Luta por um Brasil com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência.

A grande marcha está marcada para esta quarta-feira (14), com concentração às 6h, no Parque da Cidade, em Brasília, e saída às 7h para a Esplanada dos Ministérios, onde o evento será encerrado às 11h nas proximidades do Congresso Nacional.

A manifestação ocorre sempre por volta do dia 12 de agosto, data da morte da trabalhadora rural e líder sindicalista Margarida Maria Alves. Ela foi assassinada em 1983, na Paraíba.

Luta

Segundo Veronica de Santana, uma das coordenadoras do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste, a Câmara dos Deputados precisa olhar para a plataforma política que vem sendo construída pelas margaridas ao longo dos anos. “Mesmo esta Casa virando as costas algumas vezes para os direitos dos trabalhadores, nós continuamos trazendo nossas esperanças”, destacou.

A coordenadora-geral da Marcha das Margaridas, Mazé Morais, defendeu o caráter de luta de denúncia do movimento. “Desejamos construir uma sociedade livre de violência, onde a gente tenha terra, agroecologia, direito à saúde, à educação e à previdência pública e universal”, afirmou. “Esse governo que está aí, se acha que vai nos calar com a sua tirania, está enganado. Nós, mulheres, seremos rebeldia”, disse.

Em Brasília por conta da Primeira Marcha das Mulheres Indígenas, que também participaram da sessão solene, a líder indígena Sonia Guajajara juntou suas demandas às das margaridas. “Estamos aqui somando forças, porque a terra é mãe de todos nós. Hoje o governo Bolsonaro representa a maior ameaça para os povos indígenas. Não estamos aqui para sermos ameaçadas. Estamos aqui, enquanto povos originários, para sermos respeitadas.”

Na avaliação da procuradora federal dos Direitos do Cidadão Deborah Duprat, a Marcha das Margaridas 2019 tem a compreensão sobre o que é ser uma margarida. “Só seremos mulheres se estivermos comprometidas contra todo tipo de dominação, todo tipo de violência. Somos indígenas, trabalhadoras, somos mulheres lutando contra a violência”, resumiu.

Agência Câmara, 14 de agosto de 2019