Só entre o terceiro trimestre de 2014, início da recessão, e o mesmo período do ano passado, meio milhão de trabalhadores passaram a ganhar o salário mínimo.
O salário mínimo é praticamente um teto para muitos trabalhadores e trabalhadoras, as maiores vítimas do golpe de estado de 2016 e da falta de uma política de desenvolvimento do governo de Jair Bolsonaro, que não tem uma proposta de aquecimento da economia, com geração de emprego.
Em um cenário de lenta retomada lenta do emprego, geração de vagas precárias, com salários baixos e o aumento da informalidade, que atinge 38,4 milhões de trabalhadores, e do desemprego que afeta outros 12,6 milhões, segundo a pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada na sexta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a situação tende a se prolongar por um bom tempo.
De acordo com dados da PNAD compilados pela consultoria IDados, publicados pelo Estadão, entre o terceiro trimestre de 2014, início da recessão, e o mesmo período do ano passado, meio milhão de trabalhadores passaram a ganhar o salário mínimo.
No trimestre encerrado em setembro do ano passado, 27,3 milhões de trabalhadores recebiam até um salário mínimo. Esse número, que representa um terço do total de trabalhadores do País, mostra que muito desse aumento ocorreu pela explosão da informalidade, diz a matéria.
No terceiro trimestre de 2019, eram 20,9 milhões de informais ganhando até R$ 998 por mês — ante 6,2 milhões de trabalhadores com carteira assinada que tinham essa remuneração no mesmo período.
“Além disso, a diferença salarial entre demitidos e admitidos aumentou nos últimos meses do ano passado, o que aponta que o aquecimento do mercado ainda não recuperou o vigor de antes”, disse a Estadão Ana Tereza Pires, pesquisadora da IDados.
Ela lembra que a crise também fez crescer o número de trabalhadores com mais anos de estudo que caíram na informalidade ou aceitaram uma remuneração menor no mercado formal. De 2014 a 2019, houve um forte crescimento entre os trabalhadores que têm o ensino médio completo ou a partir do ensino superior que ganham até um salário mínimo. Eles ocuparam vagas que antes eram destinadas a pessoas menos qualificadas.
Mais desigual
Desde o início da crise, mais pessoas passaram a ganhar até um salário nas regiões Sudeste (com mais 859,4 mil pessoas nessa situação) e Norte, com aumento de 306,1 mil. Apesar de ter caído o número de trabalhadores no Nordeste com essa remuneração, cerca de 55% dos trabalhadores de lá recebem até um salário mínimo.
Para o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, embora mais pessoas tenham voltado ao mercado formal em 2019, houve uma precarização. “Sem um compromisso com o crescimento do País e políticas de inserção, o engenheiro vai continuar dirigindo Uber.”