Estudo ‘Desigualdades Sociais por Cor ou Raça’ mostra que desvantagem não se altera nos últimos anos
Dados do IBGE mostram que trabalhadores brancos possuem renda 74% superior, em média, em relação a pretos e pardos, diferença que se manteve praticamente estável ao longo dos últimos anos.
De acordo com o estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça”, divulgado nesta quarta-feira (13) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pretos e pardos, que representam 56% da população brasileira, estão em desvantagem no mercado de trabalho, apresentam os piores indicadores de renda, condições de moradia, escolaridade, acesso a bens e serviços, além de estarem mais sujeitos à violência e terem baixa representação em cargos de gerência.
A renda média mensal do brasileiro branco, seja ele trabalhador formal ou informal, é de R$ 2.796. Entre os pretos e pardos, é de R$ 1.608, segundo dados de 2018. Proporcionalmente, para cada R$ 1.000 pago a uma pessoa branca, paga-se R$ 575 para um trabalhador preto ou pardo.
“Tal diferença relativa corresponde a um padrão que se repete, ano a ano, na série histórica disponível”, afirma o IBGE no estudo que considera dados de 2012 a 2018.
Os homens brancos estão no topo da pirâmide dos maiores rendimentos. Para cada R$ 1.000 recebidos por esse grupo, são pagos R$ 758 para mulheres brancas, R$ 561 para homens pretos ou pardos e R$ 444 para mulheres pretas ou pardas.
O diferencial de salário por cor ou raça, diz o IBGE, é maior do que o por sexo. Isso é explicado, segundo o instituto, por fatores como segregação ocupacional, oportunidades educacionais e remunerações inferiores em ocupações semelhantes.
Essa diferenciação se mostra ainda na ocupação de cargos gerenciais: quase 70% das vagas para brancos e menos de 30% para pretos ou pardos.
Outro indicador do mercado de trabalho mostra que, apesar de representarem mais da metade da força de trabalho (55%), pretos e pardos são praticamente dois terços (66%) dos desocupados e dos subutilizados. A taxa de desocupação também é maior entre eles (14,1%) do que entre os brancos (9,5%).
Quase metade dos pretos e pardos (47%) estavam na informalidade no ano passado. Entre os brancos a taxa é de 35%.
“A maior informalidade entre pessoas de cor ou raça preta ou parda é o padrão da série, mesmo em 2016, quando a proporção de ocupação informal atingiu o seu mínimo”, diz o IBGE no estudo.
Na divisão entre os mais ricos e mais pobres, o IBGE mostra que, de cada quatro pessoas no grupo dos 10% com menores rendimentos, três são pretas ou pardas e uma é branca. Entre os 10% mais ricos, a proporção praticamente se inverte.
Quando se busca a população entre as faixas de ganho mais baixas, se constata que o percentual de pretos e pardos abaixo da linha da pobreza é mais que o dobro dos brancos, considerando medidas adotadas pelo Banco Mundial. Conforme se caminha para a extrema pobreza, a diferença se amplia ainda mais.
“Indicadores de rendimento confirmaram que a desigualdade se mantém independentemente do nível de instrução das pessoas ocupadas. Tais resultados são influenciados pela forma de inserção das pessoas de cor ou raça preta ou parda no mercado de trabalho, qual seja: ocupam postos de menor remuneração e são menos representadas nos cargos gerenciais, sobretudo os de mais altos níveis”, diz o instituto.
Segundo o IBGE essas diferenças também se refletem no acesso a bens, desde telefones, internet e computadores, até utensílios como máquina de lavar.
O celular está presente em 82,9% da população branca e 74,6% da preta ou parda. Na lava-roupa os percentuais são de 79% e 55,2%, respectivamente.
Em relação aos serviços básicos, 45% da população preta ou parda não tem saneamento, percentual que é de 28% entre os brancos.
Mesmo nos indicadores em que houve expressiva melhora nos últimos anos, as diferenças entre os dois grupos permanecem relevantes, segundo o IBGE. Esse é o caso dos indicadores educacionais.
De 2016 para 2018, a taxa de analfabetismo passou de 9,8% para 9,1% entre pretos e pardos, mas está distante dos 3,9% dos brancos. A proporção de pessoas de 25 anos ou mais com pelo menos o ensino médio passou de 37,3% para 40,3% (está em 55,8% entre os brancos). A proporção de jovens de 18 a 24 anos de idade de cor ou raça branca que frequentavam ou já haviam concluído o ensino superior (36,1%) era quase o dobro da observada entre aqueles de cor ou raça preta ou parda (18,3%).
“Um fator que auxilia a compreensão desses resultados consiste na maior proporção de jovens pretos ou pardos que não dão seguimento aos estudos por terem que trabalhar ou procurar trabalho”, diz o IBGE.
Em relação à violência, por outro lado, os números mostram uma piora, principalmente para o grupo mais desfavorecido.
Enquanto a taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes manteve-se estável na população branca de 2012 a 2017 (16 mortes/100 mil), ela aumentou na população preta ou parda de 37,2 para 43,4 homicídios por 100 mil.
“A desigualdade racial se manifesta também de forma bastante acentuada na dimensão da violência. Assim como na educação, tal cenário demanda políticas públicas com enfoque na população jovem de cor ou raça preta ou parda”, conclui o IBGE.