Entre os consumidores , 79,1% afirmam estar comprando apenas produtos essenciais em meio à crise.
Redução da demanda e paralisação das atividades são os principais fatores que contribuem para que empresários sintam os efeitos negativos da crise do novo coronavírus nos seus negócios, aponta pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).
Responsável pelas tradicionais sondagens mensais de confiança junto a consumidores e setores produtivos, o Ibre incluiu no seu levantamento de abril perguntas adicionais para medir os impactos da pandemia. Foram consultados 1.731 consumidores e 2.987 empresas até 17 de abril.
Construção civil lidera
Grande parte das companhias disse perceber os reflexos negativos causados pela crise, mas o impacto negativo ou muito negativo registrou relato maior no setor de construção (94,3%). Em seguida estão as empresas prestadoras de serviços (91,7%), principalmente aquelas ligadas a alojamento, serviços de transporte rodoviário e obras de acabamento.
Dentro da indústria, os segmentos relacionados a bens duráveis e de capital sofrem mais negativamente os reflexos da crise, ambos afetados por problemas no fornecimento de insumos importados.
Vestuário (87,8%), couros e calçados (81,8%) e veículos automotores (79,7%) são os que possuem a maior proporção de empresas reportando impacto muito negativo em seus negócios. Segundo o Ibre, fabricantes de vestuário enfrentam dificuldades no fornecimento de insumos importados, enquanto produtores de couros e calçados sofrem com a redução da demanda externa.
No comércio, os segmentos mais impactados também são veículos, tecidos, vestuário, calçados, móveis e eletrodomésticos, com mais de 90% das empresas desses grupos afirmando que são afetadas negativamente.
Entre as exceções, relatam reflexos positivos algumas empresas de segmentos de alimentos, fabricação de produtos alimentícios, supermercados, fabricação de produtos farmacêuticos e de plástico e serviços da construção relacionadas a hidráulica, ventilação ou refrigeração.
Em todos os setores, a maior parte das empresas projeta que o coronavírus impactará suas atividades no segundo e no terceiro trimestre de 2020. Sobre o tempo de recuperação após o fim da crise, cerca de 70% das empresas concentram suas expectativas entre quatro a seis meses de recuperação.
As mais otimistas (entre dois e três meses) são companhias de produção de bens intermediários, fabricantes de produtos não duráveis e alguns tipos de obras, áreas em que a paralisação é apontada como o principal entrave nos negócios.
Na ponta mais pessimista, segmentos com a maioria das empresas projetando pelo menos sete meses de recuperação incluem serviços imobiliários, de transportes e de manutenção. Pelo lado do comércio, os supermercados são os que possuem a maior proporção de empresas projetando que a recuperação ultrapassaria nove meses após o fim da pandemia.
Consumidor
A pandemia tem afetado a cesta dos consumidores, que tendem a controlar mais seus gastos diante do isolamento social e do aumento da incerteza em relação à economia e ao emprego nos próximos meses. Entre os consumidores consultados pelo Ibre, 79,1% afirmam estar comprando apenas produtos essenciais.
Cerca de 15% dos respondentes disseram que o consumo ainda não foi afetado, e esse percentual é maior conforme aumenta o poder aquisitivo dos consumidores – chega a 20,6% entre aqueles com renda familiar mensal acima de R$ 9.600,01.
Sob a ótica dos consumidores, 67,8% dizem acreditar que a economia brasileira voltará ao normal apenas depois de seis meses. Outros 10% esperam que a economia se recupere rapidamente, isso é, em menos de três meses (2,3% no mês que vem e 7,7% em dois ou três meses) e 19,1% projetam que isso ocorrerá entre quatro e seis meses.
Segundo Rodolpho Tobler, economista do Ibre e um dos responsáveis pela pesquisa, mesmo que o fim da quarentena seja definido nos próximos meses, a velocidade da retomada vai depender do ritmo de recuperação da demanda, que pode ser retido pelos níveis elevados de desemprego e incerteza.
“Os resultados sinalizam que o período pós-pandemia deverá apresentar uma recuperação heterogênea e em velocidade diferente entre os segmentos de todos os setores econômicos”, conclui o relatório do Ibre.