Medidas anunciadas pelo BC, que envolveriam R$ 1,2 trilhão, não favorecem o cidadão comum, segundo Fausto Augusto Junior.

BC atua para proteger a “ciranda financeira”, em vez de garantir crédito às famílias e pequenas empresas

 

O Banco Central (BC) anunciou nesta segunda-feira (24) medidas para injetar R$ 1,2 trilhão no mercado financeiro e aumentar a liquidez, tentando mitigar os efeitos econômicos do coronavírus. Para o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, são medidas importantes, mas insuficientes para garantir oferta de crédito às famílias e pequenas empresas.

Ele voltou a cobrar do sistema financeiro medidas mais efetivas, como redução dos juros, alongamento de prazos para o pagamento de dívidas e suspensão de tarifas para transações online. “É hora de o sistema financeiro colaborar, com refinanciamento e alongamento de dívidas e oferta de crédito. Os recursos estão ainda muito longe de chegar à economia real. Na verdade, servem mais para proteger o próprio setor financeiro”, afirmou a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (24).

Entre as ações anunciadas pelo BC, estão a liberação do compulsório (parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a manter em reservas), mudanças nas regras das Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). “É fundamental para afastar o risco de quebra dos bancos. Por outro lado, são medidas que não chegam efetivamente à ponta. Para isso, é necessário que o governo avalie outras questões.”

Fausto destacou que o setor financeiro é um dos poucos que vem mantendo lucros recordes, mesmo durante a estagnação econômica dos últimos anos. Caso os bancos não adotem as medidas adequadas, ele reivindica que o governo tome “medidas radicais”, como a suspensão de multas sobre dívidas atrasadas. “O que defendemos é que o governo precisa se posicionar. Precisamos do adiamento dos pagamentos para atravessar essa crise. O setor financeiro é robusto o suficiente para enfrentar essa crise.”

Negociação

Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos Bancos  (Fenaban) criaram nesta segunda (24) um comitê de crise para acompanhar as orientações das autoridades de saúde diante da pandemia. A principal preocupação é garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores, que apresentaram uma série de reivindicações, como o reforço da comunicação preventiva, a adoção do teletrabalho e o controle do acesso às agências, de modo a evitar aglomerações.

A entidade patronal ainda estuda a aplicação das medidas, mas o diretor técnico do Dieese saudou a disposição em negociar. “É um exemplo inclusive para o que não estamos vendo no governo federal, que tem tomado medidas ouvindo só um lado da discussão, os empresários, como a gente viu ontem com a MP 927.”

RBA, 25 de março de 2020