Austeridade é um disfarce para o predomínio do capital financeiro
Gabriel Zucman e Emmanuel Saez são dois economistas franceses que lecionam no campus de Berkeley da Universidade da Califórnia. Zucman foi aluno de outro economista francês, Thomas Piketty, que ficou famoso e rico como autor de O Capital no Século 21, em que, entre outras heresias, mostrava como o capitalismo desenfreado dos sonhos neoliberais não traria felicidade geral, mas desigualdade e miséria crescentes.
Saez segue a linha de Zucman, e eles acabam de lançar um livro expondo suas ideias – que ganharam relevância especial porque os dois são conselheiros para assuntos econômicos dos candidatos mais progressistas do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos, Bernie Sanders e Elizabeth Warren. A dupla francesa se junta a outros economistas do contra, como os americanos Paul Krugman e Joseph Stiglitz, para citar apenas os nomes mais conhecidos, que desafiam a ortodoxia neoliberal e suas “verdades” estabelecidas.
A ideia mais chocante para os ortodoxos é a da taxação progressiva de grandes fortunas para assegurar uma melhor distribuição de renda e dar ao Estado os meios de combater as mil maneiras que os muito ricos e as grandes corporações têm de esconder seus lucros imorais. A desigualdade é uma questão moral antes de ser uma questão de economia ou política – ou simplesmente estética, de simetria.
Bernie Sanders tem se saído melhor, nas “primárias” e nas pesquisas de intenção de votos, do que Elizabeth Warren. Tem contra si a idade, quase 80, e o fato de “socialismo” – mesmo que só signifique taxar os ricos e garantir programas universais de saúde – ainda ser palavrão para muitos americanos. Joe Biden, que tem o carisma de uma couve-flor, está subindo nas “primárias” e nas pesquisas e talvez acabe sendo a opção sensata para enfrentar o Trump.
O livro recém-lançado de Zucman e Saez é intitulado The Triumph of Injustice, o triunfo da injustiça, um nome perfeito para o que acontece em países como o Brasil, em que a austeridade é um disfarce para o predomínio do capital financeiro, cujo poder persiste através dos anos no que pode ser descrito como um longo, interminável, desfile triunfal.