Entre trabalhadores com ensino superior, diferença chega a 38%. Elas também são mais afetadas pelo desemprego, trabalham o dobro em casa e se aposentam com benefício menor.
Enquanto os homens ganharam, em média, R$ 2.495, no último trimestre de 2019, as mulheres receberam R$ 1.958, rendimento 22% menor, segundo o Dieese. As análises são com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, e inclui o trabalho formal e também informal.
Entre os trabalhadores com ensino superior, a diferença é ainda maior, chegando a 38%. Eles tiveram salário médio de R$ 6.292, e elas, R$ 3.876. No segmento de diretores e gerentes de empresas, a diferença foi de 29%. Elas ocuparam 40% desses postos, recebendo R$ 29 a hora trabalhada, enquanto eles ganharam R$ 40 em média.
A técnica do Dieese Camila Ikuta explica que uma das intenções do levantamento era demonstrar a discrepância salarial entre gêneros, inclusive em situações equivalentes. “Mesmo quando a mulher está no mesmo patamar, seja em relação ao nível de escolaridade, seja no tipo de cargo, ainda assim existem diferenças. É importante pontuar que, na média, a mulher tem mais anos de estudo do que o homem”.
Além das questões estruturais, como o machismo, ela aponta que a diferença salarial no nível superior se dá também porque as mulheres acabam optando, ou sendo mais facilmente acolhidas, em setores como educação e serviços, que têm menores remunerações.
Por Região
As maiores desigualdades salariais foram registradas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com os estados do Mato Grosso (30%), Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul (os três com 28%) na liderança. As menores estão nas região Norte e Nordeste – Amazonas (5%), Amapá (6%), Alagoas (6%) e Roraima (7%).
“O que acontece é que nas regiões mais desenvolvidas, a amplitude salarial é maior. São regiões que registram altos salários, por isso a discrepância é maior, enquanto nas outras regiões o rendimento médio é baixo”, já que os maiores salários são deles, detalha Camila.
Dupla e tripla jornada
Segundo o levantamento do Dieese, as mulheres gastaram 95% mais tempo do que os homens nos afazeres domésticos. Enquanto elas dedicaram em média 21h18 do seu tempo aos cuidados com a casa, os homens dedicaram apenas 10h54 minutos às mesmas obrigações.
A falta de creches é outro agravante das disparidades. Das mulheres que tinham filhos – até 3 anos – em creches, 67% conseguiam trabalho. Daquelas que não tinham nenhum filho em creche, somente 41% estavam trabalhando.
Desemprego e aposentadoria
Os dados também apontam que as mulheres sofrem mais com o desemprego. Enquanto a taxa de desocupação entre eles era de 9,2%, entre elas esse número chegou a 13,1%. Em relação aos responsáveis pelo domicílio, o desemprego afetava apenas 5,1% dos “pais de família”, enquanto as “mães de família” sem ocupação chegavam a 10,2%. A pesquisa mostra que 37% das mulheres desempregadas estavam há mais de um ano na busca por uma recolocação, enquanto 27% dos homens estavam na mesma situação.
“São variáveis que influenciam umas nas outras. Se a mulher gasta o dobro do tempo nos afazeres domésticos, se quando tem filhos, encontra dificuldade em ser atendida por creches, a mulher acaba passando por muitos momentos em que é obrigada a se ausentar do mercado de trabalho, o que acaba rebatendo no desemprego”, afirmou a técnica do Dieese.
Consequência das disparidades salariais, as mulheres também receberam valores menores nas aposentadorias. Enquanto o rendimento dos aposentados era de R$ 2.051, as aposentadas recebiam R$ 1.707, média 17% menor.