Para recuperar R$ 2,5 bilhões desde 2015 até hoje, de corrupção, foi necessária uma perda de aproximadamente R$ 142 bilhões, apenas em 2015. Isso significou uma retração no PIB de 2,5%
O valor acima de R$ 2 bilhões recuperado pela Operação Lava Jato é um dado comum no dia a dia dos noticiários da imprensa comercial. Defensores da força-tarefa que deixou de ser um mecanismo de combate à corrupção para se tornar um instrumento de poder e influência política usam esse resultado como troféu, muitas vezes para justificar, inclusive, ilegalidades cometidas na operação, tais como as evidenciadas pelo escândalo conhecido como Vaza Jato.
Agora, qual o prejuízo para a economia do país que a Lava Jato já provocou? Todo o processo da operação, que foi tratado de forma espetacular pela mídia, levou à difamação de empresas, estancou setores produtivos e ajudou a impor na política nacional uma lógica privatista liberalizante. Os custos foram altos. Para recuperar os R$ 2,5 bilhões desde 2015 até hoje, foi necessária uma perda de aproximadamente R$ 142 bilhões, apenas em 2015. Isso significou uma retração no PIB de 2,5%. Isso, é importante reforçar, em apenas um ano.
Os dados foram divulgados pelo jornal Valor Econômico, em artigo assinado pelos pesquisadores Luiz Fernando de Paula, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), e Rafael Moura, doutorando de Ciências Políticas do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/UERJ) a partir de estudo da consultoria GO Associados e Tendências. Tal valor representa o impacto estimado da operação em setores como metal-mecânico, naval, construção civil e engenharia pesada. Os resultados são catastróficos. Além do amplo prejuízo, o Valor ainda expõe um dado que impacta diretamente na vida das famílias brasileiras: de 2014 a 2017, o setor da construção civil viu extinguir 991.734 vagas de emprego.
Bebê com a água do banho
Ninguém discorda da importância do combate à corrupção. A Lava Jato usou o combate à corrupção como argumento para implementar uma agenda política no país. Uma agenda antinacional e entreguista. A força-tarefa atuou por meio de conluios de setores do Ministério Público e do Judiciário, notadamente o então juiz federal Sergio Moro, que veio a ser nomeado ministro de Bolsonaro, que vem aplicando a tal agenda antinacional à todo vapor.
“Por trás dos argumentos de combate à corrupção escondem-se interesses que atentam contra a soberania nacional e em favor de ganhos exorbitantes para o capital privado internacional e de ganhos curto-prazistas para alguns setores do capital privado nacional”, resume o cientista político William Nozaki, em artigo escrito para o Jornal GGN.
O que aconteceu foi praticamente o fim do investimento do Estado em empresas como a Petrobras. Para a mídia corporativa seria um crime investir em uma empresa com imagem tão danificada pela Lava Jato. O forte desmonte da empresa resultou, não por acaso, em ações privatistas. “Uma saída para dirimir os problemas associados à corrupção estaria na redução dos investimentos da Petrobras e, mais grave: na transferência de suas atividades para empresas estrangeiras”, explica Nozaki. O plano do governo Bolsonaro é, abertamente, partir para a privatização completa da empresa.
Novamente, sem minimizar o problema da corrupção, Nozaki apresenta a “meta” da estatal que consta no atual plano de negócios, de reduzir em 25% os investimentos, além da ampla redução dos ativos. A culpa cai sobre a corrupção. Mas, outro dado desafia novamente a lógica imposta às estatais. Em 2014, a Petrobras estimou perdas com corrupção em R$ 6,5 bilhões. Neste mesmo ano, o lucro da estatal foi de R$ 80 bilhões. “O problema da corrupção não justifica o encolhimento dos investimentos apontados pela atual gestão da Petrobras. Nesse sentido, a Operação Lava Jato tem deixado impactos econômicos bastante danosos para o conjunto da economia brasileira”, finaliza Nozaki.
É como jogar o bebê fora com a água do banho. As perdas contabilizadas não param, mostra o artigo dos pesquisadores no Valor Econômico. Uma das empresas mais difamadas durante a operação foi a Odebrecht. Em 2014, a empresa faturava R$ 107 bilhões ao ano e tinha 168 mil funcionários. Em 2017, o faturamento caiu para R$ 82 bilhões e o número de trabalhadores reduziu pela metade, e conta com corpo de 58 mil funcionários. A Camargo Corrêa, outra gigante da construção civil, somou perdas de 68,6% em seus ativos.