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O PIB per capita e alguns dos principais componentes da oferta e da demanda, como a indústria e o investimento, deverão levar um longo tempo para voltar ao nível anterior ao da mais recente recessão, dado o tamanho do tombo e o ritmo lento de recuperação da atividade econômica. Se crescer ao ritmo médio alcançado entre 1980 e 2018, de 0,9% ao ano, o PIB per capita retornará ao que era antes da crise apenas no terceiro trimestre de 2028, segundo estimativas dos economistas Marcel Balassiano e Juliana Trece, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Recessão cavalar – O Brasil passou por uma recessão cavalar entre o segundo trimestre de 2014 e o quarto trimestre de 2016, seguida por uma recuperação pífia nos dois anos subsequentes, destacam Balassiano e Juliana. O PIB per capita encolheu 0,3% em 2014, 4,4% em 2015 e 4,1% em 2016, aumentando apenas 0,3% em 2017 e 0,3% em 2018.

Acumulado – No acumulado entre o segundo trimestre de 2014 e o quarto trimestre do ano passado, a perda acumulada pelo PIB per capita foi de 8,7%. Se o ritmo de crescimento de 2018, de 0,3%, for mantido, o indicador só volta ao nível prérecessão daqui a mais de 25 anos, apenas no quarto trimestre de 2045, apontam Balassiano e Juliana.

Simulação – No estudo, os dois economistas fazem uma simulação um pouco mais otimista, considerando o crescimento médio do PIB per capita entre 1980 e 2013, excluindo os últimos cinco anos, marcados pela recessão (2014 a 2016) e pela “recuperação lenta e gradual da economia” (2017 e 2018). No intervalo de 1980 a 2013, o PIB per capita cresceu 1,3% ao ano, taxa que, se repetida daqui para frente, levaria o indicador ao nível pré-crise no segundo trimestre de 2024, daqui a cinco anos. O PIB per capita é calculado pela divisão do valor do PIB pela população total, sendo usado com uma medida do nível de riqueza de um país.

Componentes do PIB – Balassiano e Juliana fizeram simulações também para alguns componentes do PIB. A situação é especialmente dramática no caso da indústria, pelo lado da oferta, e do investimento, pelo lado da demanda. Entre o segundo trimestre de 2014 e o quarto trimestre de 2018, a indústria teve perda acumulada de 12,1%. Se mantiver o crescimento do ano passado, de 0,6%, a volta ao nível pré-recessão levará um pouco mais de 20 anos, ocorrendo apenas no terceiro trimestre de 2039. No caso da indústria de transformação, o quadro é um pouco menos desfavorável, porque a expansão em 2018 foi de 1,3%.

2028 – Nessa velocidade, o segmento retornaria ao patamar pré-crise no segundo trimestre de 2028, ainda assim levando um pouco mais de nove anos para chegar lá. “Esses exercícios servem para mostrar que a recessão foi muito forte e que a recuperação é muito lenta e gradual”, diz Balassiano. Mantendo o panorama de uma retomada tão gradativa, ainda faltaria um longo caminho para a volta ao período imediatamente anterior à recessão, ou seja, para o primeiro trimestre de 2014.

Investimento – Pelo lado da demanda, o componente do PIB que mais sofreu foi o investimento. No auge da crise, o tombo chegou a superar 30%. No acumulado do segundo trimestre de 2014 ao quarto trimestre de 2018, o recuo foi de 25,9%, uma queda um pouco menor por causa do crescimento de 4,1% da formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação) no ano passado.

2024 – Se o investimento repetir essa taxa de expansão, ele voltará ao nível pré-recessão no terceiro trimestre de 2024. Balassiano lembra, no entanto, que o avanço da FBCF em 2018 foi inflado pela mudança envolvendo operações com plataformas de petróleo, que passaram a ser computadas como importação. Sem essa questão contábil, o investimento cresceu apenas 2% no ano passado. Nesse ritmo, a FBCF retornará ao nível pré-crise no primeiro trimestre de 2031.

Cenário mais otimista – Balassiano e Juliana construíram também um cenário mais otimista para essas simulações, dobrando o ritmo de crescimento registrado em 2018 para cada um desses componentes. A indústria, por exemplo, levaria 10, e não 20 anos, para voltar ao pré-crise. Isso ocorreria no primeiro trimestre de 2029. No caso do investimento, o retorno se daria no quarto trimestre de 2021, mas porque a taxa considerada seria de 8,3% ao ano, o dobro dos 4,1%, inflada pela questão das plataformas de petróleo.

Serviços – Serviços, pelo lado da oferta, e consumo das famílias, pelo lado da demanda, deverão recuperar mais rapidamente o nível anterior à recessão, em especial porque tiveram quedas menos intensas. No mesmo ritmo de expansão de 2018, a volta dos serviços se daria no primeiro trimestre de 2021; se a velocidade dobrar, isso ocorreria já no primeiro trimestre de 2020.

Consumo das famílias – Já a volta do consumo das famílias pode ocorrer no terceiro trimestre de 2020, mantido a taxa de crescimento do ano passado, de 1,9%. Se o ritmo dobrar, o retorno será no quarto trimestre deste ano.

Aceleração do crescimento – As simulações mostram a importância de o país voltar a acelerar o crescimento, diz Balassiano. Ele e Juliana mencionam o estudo da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, discutindo o efeito da reforma da Previdência sobre a atividade econômica. No caso de aprovação da mudança do sistema de aposentadorias, “a média de crescimento do PIB brasileiro no período 2019-2023 seria de 3% ao ano”, observam eles. Sem a reforma, o país voltaria à recessão em 2021, segundo a SPE, e o PIB cairia em média 0,5% ao ano de 2019 a 2023.

Fundamental – “Reverter esse grave problema fiscal é de fundamental importância para o Brasil voltar a crescer mais e, com isso, reverter o cenário de desemprego alto”, dizem Balassiano e Juliana, observando que, “nas últimas semanas, as projeções de crescimento do PIB de 2019 estão sendo revisadas para baixo, o que acaba comprometendo o crescimento de 3% entre 2019-2023, mesmo no cenário com aprovação da reforma da Previdência. Para este ano, o consenso de mercado atual é de uma expansão de 1,23%.

Sistema de aposentadorias – Para eles, isso reforça a importância de que, além da mudança do sistema de aposentadorias, também se tente avançar em outras medidas que ajudem a melhorar as perspectivas de crescimento do país, como a melhora do ambiente de negócios e a reforma tributária. “Elas são de fundamental importância para que o país possa crescer mais e de forma mais sustentada no futuro e, com isso, gerar mais empregos, que é a variável mais importante para a população.” No primeiro trimestre, o desemprego ficou em 12,7%, o equivalente a 13,4 milhões de pessoas. (Valor Econômico)

Paraná Coperativo, 29 de maio de 2019