Não é só o crescimento econômico pífio que deveria preocupar, mas também para onde vai a riqueza gerada no país, segundo o engenheiro e ex-banqueiro de investimentos Eduardo Moreira.
O IBGE anunciou que o PIB brasileiro avançou 0,6% do segundo para o terceiro trimestre, crescimento de 1% no acumulado do ano e também nos quatro últimos trimestres. O governo comemora, apesar de ser um índice bem abaixo que previam diversas instituições no ano passado.
O FMI, por exemplo, projetava o PIB brasileiro indo a 2,4% em 2019. Já o economista global sênior do Bank of America, Aditya Bhave, se mostrava bastante otimista em dezembro: “O crescimento também vai ser apoiado pela agenda pró-mercado da Administração do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que deve impulsionar a confiança e o investimento”. A instituição previa que o PIB fosse elevado em 3,5%.
Independentemente do desempenho fraco da economia, o engenheiro e ex-banqueiro de investimentos Eduardo Moreira chama a atenção para outro fator: para onde está indo a riqueza gerada no Brasil. “Apesar de um PIB que cresce significar uma sociedade que está gerando mais riqueza, não necessariamente ela está se revertendo em condições melhores de vida para todos”, destaca.
“A Oxfam mostrou que, em 2017, 87% de toda a riqueza gerada no mundo ficou na mão do 1% mais rico. 50% das pessoas mais pobres ficaram com zero do que foi gerado. É como se estivéssemos falando de dois planetas diferentes”, pontua, em vídeo no seu canal no Youtube. “O que foi acumulado em um ano pelos bilionários daria para acabar com a fome no mundo sete vezes.”
Essa mesma concentração de riqueza também se reflete no Brasil. Além disso, o país também tem outro problema, relacionado à qualidade desse crescimento econômico.
“O PIB vai apresentar o crescimento por conta do agronegócio. Vai aparecer como maior, mas o que estamos produzindo aqui dentro está indo pra fora, para fazer rações para a criação de porcos na China, óleo de cozinha na Europa, a carne para alimentar as pessoas que moram no Oriente Médio”, ressalta. “E não está matando a fome de ninguém no Brasil, resolvendo os problemas de escassez de produtos naturais no país, e pior: é um setor que emprega cada vez menos gente com trabalho automatizado, latifúndios enormes que empregam pouquíssimas pessoas.”
Segundo ele, é aí que se estabelece um círculo vicioso da concentração de renda. “Quando essas pessoas vendem para fora, esse dinheiro todo, que conta na soma do PIB, vai para uma família só, que é dona desse latifúndio. Essa família pega o dinheiro e põe no banco, compra títulos públicos do governo, e vai ficar com ele parado recebendo juros pagos com impostos, em sua maioria, sobre o consumo, que alcançam a população pobre do Brasil”, explica. “O fluxo desse PIB gerado é um dinheiro que veio de algo que não atendeu as demandas da população brasileira, não gerou empregos”, aponta ainda, lembrando que é um modelo que sufoca também a agricultura familiar.